A questão do autoamor é complexa, mas não deveria ser. Mergulhamos em dúvidas, julgamentos e preocupações vazias. A vida muitas vezes nos reserva momentos que nos empurram pra uma reflexão profunda sobre isso, desencadeando emoções que vão além das palavras.
O nosso papo hoje é sobre a partida do meu pai, um homem que irradiava cuidado pra todo mundo, exceto pra si. Ele possuía um coração generoso, sempre preocupado com o bem-estar da gente, mas que ironicamente, parou de bater quando mais precisava bater por ele. A palavra que ecoa em meio à minha jornada de luto é “autoamor”.
Memórias e afetos
A imagem que trago do meu pai é de uma pessoa cujas ações falavam mais alto do que suas palavras. Ele estava sempre lá pra oferecer um ouvido atento, um docinho ou uma longa história da sua época de jovem, que coincidentemente, trazia uma lição pro tema levantado.
Ele cuidou e mimou minha mãe, durante e depois da quimio, brincou com todo mundo pra deixar seu problema cardíaco mais leve, mas enquanto ele se dedicava incansavelmente, raramente reservava tempo de qualidade pra si.
O amor que ele distribuía pra todo mundo, por algum motivo, não dava também a ele.
Muitas memórias vem passando por nós nesses primeiros dias, muitas histórias, risadas, lágrimas… mas uma coisa todo mundo tinha em comum: insistir pra ele se cuidar mais e receber piadinhas de volta. Ele amou demais, do jeito dele, mas não a ele, como deveria.
Amar ao próximo como a si
O termo “autoamor” muitas vezes é mal interpretado como egoísmo, mas a verdade é que é uma base essencial pra a capacidade de amar verdadeiramente.
A partida do meu pai me mostrou a importância dessa lição. Ele, que tinha uma habilidade inata de cuidar, não soube como se preservar.
Somos então confrontadas com uma verdade: não podemos dar o que não temos, sem nos prejudicar. A generosidade que oferecemos aos outros deve ter raízes em nosso amor próprio. Então me pego flanando em algumas questões:
- Estou também sabendo me cuidar?
- Será que eu reservo um tempo sagrado pra atender às minhas próprias necessidades?
- Ou estou me perdendo nas demandas do mundo, enquanto a vida se desvanece?
- Estou me permitindo descansar, perseguir paixões que me nutrem e buscar a cura das minhas próprias feridas emocionais?
E você… como está seu coração?
Jornada pelo autoamor
A perda do meu pai me forçou a considerar o estado do meu próprio coração. A jornada em direção ao autoamor é um ato contínuo de autocuidado, não um luxo. É um investimento não apenas em nosso próprio futuro, mas também no nosso papel na vida de quem amamos.
Quando nos preocupamos em cuidar de nós, estamos construindo uma fundação sólida pra cuidar de outras pessoas.
Como está seu coração? A pergunta é um lembrete constante de que nosso próprio bem-estar é essencial pra a autenticidade de nossas conexões.
A vida é frágil e imprevisível e o fio que tece nossa história e trançado pelas nossas mãos, tendo a trama que escolhemos. O meu pai deixa um lembrete doloroso e emocionalmente carregado: devemos abraçar o autoamor pra nutrir nosso próprio ser e assim, estender um amor mais profundo, sustentável e autêntico aos outros.
À medida que enfrentamos nossas próprias perguntas internas e buscamos cuidar de nossos corações, reconhecemos que essa jornada é um testemunho do amor que compartilhamos com aqueles ao nosso redor – e, talvez o mais importante, é um tributo ao amor que aprendemos a nos dar.
E você, como está seu coração?
Ps.: Sim, ele amava rosas.