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Relações abusivas: como identificar

Bora falar sobre como identificar relações abusivas e sair dessa? Então bora

Existe um momento em que o “amor” começa a doer e a gente demora pra perceber isso, começa com uma sensação de que alguma coisa não tá legal e vai crescendo, virando uma angústia… até se perceber.

Não é que falte inteligência, força ou coragem. É que o abuso raramente chega gritando. Ele vem aos poucos, com gestos que parecem cuidado, frases que soam preocupação, cobranças que parecem saudade, exigências que começar a passar do limite.

Até que você percebe: não é amor. É controle.

Mas calma — essa conversa não é pra te assustar. É pra gente abrir os olhos com leveza, como quem acende a luz devagar pra deixar a vista se acostumar.

O abuso mora nas sutilezas

Me permiti pegar emprestada a ideia do título do episódio “As sutilezas nada sutis do abuso” do podcast Bom Dia, Obvious explica bem: a relação abusiva começa nas entrelinhas e vai crescendo, não do lado de fora, mas dentro da gente.

É quando o parceiro diz “não gosto quando você fala com aquela colega” , fica com ciúmes e você acha fofo. Quando ele critica o seu jeito de se vestir “pra te proteger”. Quando você passa a se justificar o tempo todo — até pra fazer coisas básicas do dia-a-dia.

Essas pequenas invasões vão construindo uma teia.
E quanto mais você tenta agradar, mais presa fica.

Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), 1 em cada 3 mulheres no mundo já sofreu algum tipo de violência física ou sexual.
No Brasil, o Ministério da Saúde registrou mais de 230 mil casos de violência contra mulheres apenas em 2018, e esse número segue crescendo.

A questão é estrutural — e não, não é “drama”.
É uma realidade que atravessa todas as classes, idades e profissões.

Como reconhecer uma relação abusiva

Alguns comportamentos soam românticos, mas escondem controle. Outros parecem “brincadeira”, mas ferem a autoestima de propósito.

Veja se algo soa familiar:

  • “Não quero que você saia com essas amigas problemáticas.”
  • “Você é tão difícil de lidar, ninguém te aguentaria. Que sorte você tem de eu te suportar.”
  • “Se me amasse de verdade, faria isso por mim.”
  • “Tá vendo? Foi você quem me fez perder a cabeça.”
  • “hahaha nunca vi alguém tão [coloque aqui a ‘piadinha’ que coloca pra baixo]”

Confira mais alguns sinais de relações abusivas nesse vídeo. Ative a legenda em português.

Além dessas frases e sinais, temos alguns comportamentos como a punição com silêncio e o gaslighting — um termo que vem do filme Gaslight (1940), em que um homem faz a esposa duvidar da própria sanidade.

A psiquiatra Dra. Ana Beatriz Barbosa explica: o abusador mina a autoconfiança da mulher a ponto de ela achar que está sempre errada. “É uma manipulação que faz com que outro se sinta culpado por todos os defeitos de uma relação”, pra que se sinta perdido, confuso.

Confira o vídeo na íntegra:

O problema não é o conflito — é o padrão de dominação. Conflitos fazem parte de qualquer relação e podem ajudar a crescer. Mas o abuso é repetitivo, intencional e tira a paz. É quando você sente medo de ser quem é, que precisa sempre pisar em ovos.

Tipos de abuso (e como se disfarçam)

  • Psicológico: chantagem, ironias, culpa invertida. “Você é louca, não foi assim que aconteceu”
  • Verbal: gritos, humilhações, apelidos pejorativos, “bincadeirinhas” que colocam pra baixo.
  • Físico: empurrões, apertos, destruição de objetos, murros na parede/porta, arremessar objetos [o celular é sempre uma das vítimas favoritas].
  • Sexual: coerção, manipulação ou obrigação “pelo bem da relação”, relação estando inconsciente, compartilhar imagens suas.
  • Financeiro: controle de gastos, fazer dívidas em seu nome ou humilhação pelo dinheiro.

A cartilha “Chega! Amar não dói”, do Tribunal de Justiça de Sergipe, traz mais algumas informações.

Ela traz essa visão sobre o ciclo da violência em uma relação abusiva, que faz a mulher ficar duvidando ainda mais de si quando começa a desconfiar do que está vivendo. Observe que não é nada abrupto, sempre péssimo. Com o tempo, até migalhas de afetos se tornam a fase de lua de mel.

Visite a cartilha também!

E como sair da relação abusiva?

Sair de um ciclo abusivo não é só “ir embora”.
É reconstruir-se — primeiro por dentro, depois por fora.

O Dr. Marcos Lacerda, no vídeo Como sair de um relacionamento abusivo, destaca que o primeiro passo é querer sair dele e isso significa que precisa estar disposta a arcar com alguns custos. Não é simples, pode estar atrelado a um sofrimento complexo.

Por isso mesmo, é importante – caso você consiga – buscar primeiro apoio profissional (terapia, rede de mulheres, canais institucionais) e retomar autonomia emocional e financeira.

É um processo, não um evento.

Não tira o batom vermelho, mulher!

Existe um vídeo forte da saudosa Jout Jout que fala sobre a importância de não apagar quem você é pra caber em alguém. Porque é assim que o abuso começa: quando a gente se adapta demais.

Preparada pra alguns exemplos reais? Então assiste aí!

Não tire seu batom. Nem sua risada, nem seus amigos, nem sua forma de existir no mundo.
Quem te ama de verdade, soma com você — não te diminui.

Amar também é se proteger

Amar é bom, mas não é se perder. E colocar limite não é frieza — é cuidado. É autoamor.

Como mostra o estudo da UFRGS sobre cultura do estupro, 85% das vítimas de violência sexual no Brasil são mulheres, e 70% dos casos envolvem pessoas conhecidas ou da família.

Ou seja: o perigo, muitas vezes, está onde chamamos de lar. Por isso, aprender a nomear o abuso é também um ato de sobrevivência e liberdade.

Falar sobre abuso é falar sobre cura, autoconhecimento e futuro. Não é sobre dor, é sobre recomeço. E se você estiver nesse processo, lembre: não está sozinha.

Respira fundo. Dá tempo de recomeçar e pedir ajuda é o primeiro passo pra isso.

Se você está em uma situação de violência ou se sente em perigo, pode ligar para o 180 (Central de Atendimento à Mulher). O serviço é gratuito, funciona 24 horas e acolhe relatos de qualquer lugar do Brasil.

Se a situação for de risco imediato, chame o 190 (Polícia Militar).

Também é possível buscar apoio psicológico no CVV (Centro de Valorização da Vida), que oferece escuta gratuita e sigilosa via chat pelo site https://www.cvv.org.br ou pelo telefone 188.

Existem também redes de apoio locais: procure a Delegacia da Mulher (DEAM) mais próxima, o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), ou grupos de acolhimento de mulheres — muitas vezes ligados a coletivos feministas, universidades e iniciativas comunitárias.

E lembre-se: reconhecer o que está acontecendo não é fraqueza, é coragem. Você não precisa enfrentar isso sozinha. Falar sobre o que vive é o primeiro passo pra transformar sua história. 💜

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